Tersandro Vilela (*)
O Piauí deu um passo inédito rumo à soberania digital brasileira ao lançar o SoberanIA, primeiro modelo de inteligência artificial treinado exclusivamente em português brasileiro. O anúncio será nesta quarta-feira (25), no Palácio de Karnak, sede do governo piauiense, na capital Teresina, com a presença do governador Rafael Fonteles e representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Desenvolvido a partir do “Dataset Jabuticaba”, o modelo é uma linguagem de grande porte (LLM) treinada com textos públicos, documentos jurídicos, discursos, registros jornalísticos e bases institucionais. O vocabulário enfatiza expressões regionais, como “oxente” e “vixe”, com o objetivo de refletir variações culturais e linguísticas do país e adaptar o sistema aos sotaques e dialetos locais.
A infraestrutura técnica inclui um supercomputador com 175 mil núcleos CUDA, 6 TB de RAM e 960 GB de VRAM. Segundo o governo do estado, o projeto se conecta à estratégia de autonomia tecnológica já em curso, que envolve iniciativas em saúde digital, capacitação e reaproveitamento de equipamentos.
SOBERANIA – O MCTI firmou acordo de cooperação com o Piauí para ampliar o uso da tecnologia nas áreas de educação, segurança pública, saúde e gestão. A parceria envolve o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), o Parque de Inovação Tecnológica (PIT) e o Sistema de Inteligência Artificial (SIA). O projeto também é associado ao Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que prevê investimento federal de R$ 23 bilhões até 2028.
A previsão é que o SoberanIA seja disponibilizado como API pública ainda no primeiro semestre. O dataset também será aberto para pesquisadores, instituições públicas e setor privado. De acordo com o presidente da Empresa de Tecnologia da Informação do Piauí (Etipi), Ellen Gera, a ferramenta poderá ser utilizada por outros países lusófonos.
A iniciativa busca posicionar o Piauí como referência em inovação no setor, com um modelo treinado em dados nacionais e sensível à diversidade do país. Entre os desafios estão o risco de enviesamento linguístico e a necessidade de garantir governança ética e uso responsável da tecnologia.
(*) Jornalista pós-graduado em Filosofia, especialista em Liderança: gestão, resultados e engajamento e mestrando em Inovação, Comunicação e Economia Criativa