A rede estadual de ensino de São Paulo deu início a um projeto piloto inédito no Brasil: o uso de inteligência artificial para corrigir tarefas escolares. Desde o início do ano letivo de 2025, a Secretaria da Educação vem aplicando o recurso em cerca de 5% das atividades dissertativas realizadas por alunos do 8º ano do ensino fundamental e do 1º ano do ensino médio.
A proposta é ambiciosa e, ao mesmo tempo, estratégica: aliviar a carga dos professores, oferecer devolutivas mais rápidas aos estudantes e fortalecer o processo de aprendizagem com o apoio da tecnologia. A ferramenta, desenvolvida com base no modelo GPT-4o mini, está integrada à plataforma TarefaSP — ambiente digital utilizado por alunos para atividades extracurriculares.
Só em 2025, mais de 95 milhões de respostas já foram registradas no sistema. Desse total, entre 4 e 5 milhões de questões dissertativas por mês estão sendo avaliadas por IA. A análise é feita a partir de gabaritos elaborados por professores da própria rede, o que garante um grau de personalização na correção e no feedback.
Além de classificar as respostas como corretas, parcialmente corretas ou erradas, o sistema fornece comentários específicos para cada aluno, com observações sobre pontos fortes e fragilidades.
Caso o estudante não compreenda a devolutiva da máquina, pode acionar o recurso de suporte. A demanda é então enviada para a escola, e um professor entra em cena para retomar o diálogo pedagógico.
RACIONALIDADE – Para o secretário da Educação, Renato Feder, o projeto alia inovação à racionalidade administrativa. “Nosso objetivo é liberar tempo dos professores para que eles possam atuar de forma mais estratégica, ao mesmo tempo em que promovemos o desenvolvimento de competências essenciais nos estudantes”, afirmou à imprensa.
A iniciativa ainda está em fase experimental, mas a Pasta já projeta expansão para toda a rede. O foco agora é calibrar o sistema para diferentes idades, níveis de exigência e disciplinas — atualmente, as correções estão concentradas nas áreas de Linguagens e Ciências da Natureza.
Há, também, um sistema de controle para coibir plágio e duplicidade de respostas. A IA foi treinada para identificar padrões suspeitos e sinalizar repetições, garantindo autenticidade nas produções dos estudantes.
Com esse movimento, São Paulo se torna pioneiro no uso da inteligência artificial para correção automatizada em larga escala no Brasil. O avanço traz debates importantes: até que ponto algoritmos podem — ou devem — assumir tarefas avaliativas? E como equilibrar inovação com a preservação da dimensão humana no processo educativo?
A resposta, ao que tudo indica, virá com o tempo — e com os dados.