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Agronegócio, colaboradores

O agro não é pop, é ogro

  • Júlio Miragaya
  • 22/08/2025
  • 10:00

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Júlio Miragaya (*)

O “ogronegócio”, que a grande mídia insiste em fantasiar como algo exemplar (“o agro é tech, o agro é pop”), na vida real não nos cansa de dar maus exemplos. Nos últimos dias, mais dois casos escabrosos produzidos pelo ‘ogro’ foram revelados. O primeiro é que se anuncia mais um calote no Banco do Brasil por parte dos grandes proprietários de terras. A inadimplência, considerando pagamentos em atraso superior a 90 dias, chegou a R$ 12,3 bilhões em julho/25, com forte concentração da dívida não paga em 20 mil grandes devedores. O impacto nos resultados do BB foi enorme, com queda de 60% no lucro líquido no 2º trimestre/25 em relação ao 2º trimestre de 2024. 

Nessa toada, vêm crescendo os pedidos de recuperação judicial de empresas agrícolas, acompanhados de pedidos de desconto de 20% sobre a dívida; carência de 2 anos para começar a pagar e extensão para 10 anos do prazo para quitação da dívida. É curiosa a forma como opera a burguesia agrária no Brasil. Em tempos de vacas gordas, com lucros exorbitantes gerados por boom das commodities, se volta para aquisição de mais terras, compra de equipamentos etc. Mas, quando as dificuldades aparecem, passa a conta para o banco do governo.

Outro caso é o revelado pela pesquisa realizada pela OSCIP “Agenda Pública”, que criou o “Índice Condições de Vida – Município Agro”. Mediante 40 indicadores relativos à educação, saúde, proteção social, infraestrutura, desenvolvimento rural e gestão de qualidade, o estudo apurou a condição de vida nos 100 municípios com maior PIB agrícola do País. E os resultados não são nada razoáveis.

Para Sérgio Andrade, coordenador geral da pesquisa, “é fundamental que a riqueza gerada nos municípios do agro se converta em bem-estar concreto para as populações locais”. Mas isso está longe de ocorrer. Nenhum dos 100 municípios alcançou a faixa alta na pesquisa, com o de melhor desempenho (Cascavel/PR) ficando com índice 0,57. Sorriso, no “Nortão” do Mato Grosso, maior produtor de soja do planeta e o mais rico de todos, com PIB agrícola de R$ 8,31 bilhões em 2023, não apareceu com bons resultados em nenhum dos seis itens avaliados.

Fazem companhia a Sorriso, municípios ricos como São Desidério (BA), com PIB agrícola de R$ 7,79 bilhões; Rio Verde, com R$ 6,92 bilhões; Jataí e Cristalina, com R$ 4,84 bilhões – os três em Goiás; Lucas do Rio Verde (MT), com R$ 3,62 bilhões e Barreiras (BA) com R$ 3,12 bilhões.

No quesito educação – que avalia gastos com educação por habitante, taxa de abandono escolar, matrículas em creches e distorção entre a idade e as séries – Balsas (MA), rico município na próspera fronteira do “Matopiba”, teve índice 0,16. São Desidério (BA), também no “Matopiba”, ficou com 0,28.

Em saúde – que avalia gastos com saúde per capita, mortalidade infantil, cobertura vacinal e proporção de equipamentos do SUS sobre total de equipamentos de saúde –, as ricas cidades goianas de Jataí e Rio Verde aparecem com índices sofríveis (0,44 e 0,37). Quanto à proteção social, cuja avaliação compreende, entre outros, o número de Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) e proporção de beneficiários do Bolsa Família em relação às famílias que recebem até 1/2 salário-mínimo, Sorriso e Rio Verde aparecem com pífios 0,32.

Em relação à infraestrutura, que abrange acesso à água potável, esgoto sanitário, iluminação pública, ruas pavimentadas e cobertura de internet, nossa rica vizinha Cristalina aparece com um dos piores resultados (0,30). Em desenvolvimento rural, Sorriso, com 0,23, é o 3º pior resultado, e em gestão de qualidade, a rica Barreiras (BA) surge com índice 0,33.

Mais uma constatação de que o agro pode até ser tech, mas não é nada “pop”: O IBGE colhe dados de 70 produtos agrícolas, mas apenas três (soja, milho e cana) ocupam nada menos que 80,2% (76,8 milhões de hectares) da área plantada no Brasil, sendo sua produção destinada basicamente à exportação, produção de ração animal e, crescentemente, de combustível vegetal. Esse é tido como exemplo ecológico, mas não se mencionam os milhões de hectares de floresta derrubada para a produção de etanol de cana e de milho e de biodiesel de soja. Para completar o quadro, 120 milhões de hectares são ocupados por pasto para o gado bovino, notadamente na Amazônia Legal.     

Esses 100 mais ricos municípios em produção agrícola do País correspondem a apenas 1,8% dos municípios brasileiros, mas totalizaram um PIB conjunto de R$ 260 bilhões em 2023, nada menos que 32% do PIB agrícola nacional. Essa montanha de dinheiro está concentrada em pouquíssimas mãos, incluindo vários membros da bancada ruralista no Congresso Nacional. E se nesses ricos municípios o dinheiro não chega para a maioria do povo, é fato que ele nunca faltou para financiar os atos golpistas da extrema direita. O agro é ogro!

(*) Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan (atual IPEDF) e do Conselho Federal de Economia

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Doutor em Desenvolvimento Econômico Sustentável, ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia

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