O Fórum Nacional pela Redução da Desigualdade Social (FNRDS) entregou uma carta aberta aos membros do Conselho Monetário Nacional (CMN), na quinta-feira (28), no Banco Central. Coordenador do FNRDS, Júlio Miragaya explicou que o propósito do documento é cobrar que o órgão retome a meta de inflação que vigorava até 2018 (4,5%), mantendo o intervalo de 1,5%.
“Isso permitiria que o próprio Banco Central reduzisse a taxa Selic, na medida que não teria nenhuma justificativa para aumentá-la se a inflação estiver dentro do estabelecido”, explica.
De acordo com Miragaya, o mercado financeiro cria um “terrorismo” de estouro de meta para forçar o aumento da Selic. “O mercado financeiro ganha muito com isso. Só no ano passado foram R$ 982 bilhões de pagamento de juros da dívida pública, quase R$ 1 trilhão. Isso significa oito vezes o Bolsa Família, e sete vezes o orçamento da saúde, por exemplo”, compara.
A carta aponta, ainda, que os principais favorecidos pelo aumento da Selic é uma reduzida “elite”, que forma o clube vip dos super-ricos, com grande parte dos “rendimentos declarados” provenientes dos juros da dívida pública.
Júlio Miragaya: “O que a gente coloca é que para o bem da economia e da nação.” Foto: Antonio Sabino/BSB Capital
Histórico
Por 14 anos, de 2005 a 2018, a meta de inflação foi de 4,5% ao ano, com teto variando entre 6,5% e 6,0% (2017 e 2018). Nesse período, apenas em 2015, em meio à crise econômica, o teto foi estourado. Mesmo em 2019 e 2020, quando a meta caiu para 4,25% e 4%, a inflação permaneceu abaixo do limite.
A partir de 2021, quando o CMN fixou a meta abaixo de 4%, o teto foi ultrapassado em quatro dos cinco anos seguintes, incluindo 2025. Na visão dos representantes do fórum, caso tivesse sido mantida a meta de 4,5% com banda de 6%, não haveria descumprimento em nenhum desses anos, exceto em 2021, quando o surto inflacionário atingiu diversos países por causa da pandemia da Covid-19.
Para os economistas, a redução gradativa da meta, chegando a 3% em 2024, colocou o país em uma “camisa de força” que limita o crescimento econômico. Além disso, cita a carta, ao estabelecer um alvo “irreal” para a realidade brasileira, o CMN deu ao mercado financeiro o pretexto para alegar que a inflação estaria “fora de controle” e pressionar pela manutenção de juros elevados.
“Até hoje está em 3%, o que é uma meta irrealizável. Isso é uma meta de um país desenvolvido, numa situação de estabilidade total. Esse não é o caso do Brasil, que tem vários fatores que acertam a inflação. Então, o que a gente coloca é que para o bem da economia e da nação, essa meta deveria se estabelecer dentro do razoável, que é 4,5%, permitindo assim a redução da Selic e a melhoria no quadro econômico do país”, complementa Miragaya.
Leia a carta na íntegra: