Ana Clara Mendonça (*)
Há 6 anos, Lilian Ribeiro se desloca do Sol Nascente, de segunda-feira a sábado, para trabalhar na cooperativa de recicláveis Recicle a Vida, em Ceilândia. Sua tarefa é separar os materiais que passam pelas esteiras em quatro categorias: vidro, plástico, papel e metal. Até o mês passado, a catadora fazia todo o processo de forma braçal, independentemente do peso dos sacos de material, chamados de bags.
Mas, desde 18 de junho, o trabalho de Lilian e suas colegas foi facilitado com a chegada de um novo maquinário adquirido pela cooperativa, por meio do Programa Coopera+, uma iniciativa Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) que tem reforçado a estrutura de centros de reciclagem no Distrito Federal, com foco na industrialização da cadeia do lixo seco.
PRODUTIVIDADE – “Melhorou muito. A maioria das vezes tem bags que não conseguimos puxar, e a empilhadeira ajuda, trazendo elas direto pra balança. Antes das máquinas, a gente tinha que puxar no braço”, conta a trabalhadora da Recicle a Vida, uma das primeiras entidades beneficiadas. A cooperativa agora com duas empilhadeiras e uma balança rodoviária (para o controle de peso dos veículos que transportam materiais).
Segundo Cláudia Morais, presidente da Recicle Vida, os equipamentos melhoram a produtividade dos trabalhadores da cooperativa, que é responsável por processar cerca de 45% do lixo reciclável recolhido em Samambaia. “Antes, todo o material era carregado manualmente, com uso intenso de força física. Agora, com as empilhadeiras, conseguimos agilizar e facilitar o trabalho. Isso representa mais produção e mais renda para os catadores”, afirma.
Empilhadeira transporta materiais recicláveis, antes carregados de forma braçal pelos trabalhadores – Foto: Antônio Sabino/BSBCapital
Ela acrescenta, ainda, que a cooperativa aguarda a chegada de um caminhão compactador (similar ao usado por empresas de coleta de lixo), um roll on roll off (caminhão equipado com um sistema hidráulico que permite carregar e descarregar caçambas), além de dez caçambas, 60 carrinhos e equipamentos de informática.
A Cooperativa Mais Brasil, no Paranoá, também foi contemplada com uma prensa, um trator e outros maquinários que devem acelerar a triagem e esmagamento dos resíduos. No DF, a iniciativa prevê o apoio a 34 cooperativas até junho de 2026 e o aumento de até 30% na renda de cerca de 1.200 catadores. O investimento é de R$ 16,9 milhões.
Eficiência e dignidade
Hoje, o material reciclável chega às cooperativas por meio da coleta seletiva feita pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU). Os catadores fazem a separação manual e, depois disso, os resíduos são prensados e ficam prontos para a venda.
Para Marlon Costa, assessor técnico da ABDI, a proposta do Coopera+ é unir sustentabilidade, tecnologia e valorização da indústria da reciclagem. “A ABDI trabalha para fortalecer redes e melhorar a gestão das cooperativas. O foco é garantir mais eficiência e dignidade no trabalho dos catadores”, ressalta.
Saiba +
A execução do projeto envolve as três maiores redes de reciclagem do DF: Central Centro-Oeste (CCO), Central de Cooperativas (Centcoop) e Rede Alternativas, parceiras diretas da ABDI. Um dos objetivos do Coopera+ é contribuir para a redução do volume de resíduos enviados aos aterros sanitários e promover um modelo mais sustentável de gestão de resíduos sólidos na capital.
(*) Estagiária sob supervisão de Orlando Pontes