Júlio Pontes
Escrevo este texto uma semana após a morte de um gênio brasileiro. Dono de 795 obras musicais e 1.797 gravações cadastradas no banco de dados do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), Arlindo Cruz, com certeza, está no hall dos imortais. Além disso, foi o inventor de técnicas de banjo que são reproduzidas por todos os pagodeiros do Brasil.
Arlindo era conhecido como O Sambista Perfeito, justamente por cantar, compor e tocar muito bem. Um dos álbuns deixados por ele carrega este nome. Dentre as centenas de músicas, recomendo três não tão conhecidas: CPI, Ilicitação e Numa Cidade Muito Longe Daqui. Todas misturam samba e política, como costumo fazer neste espaço. E ele deixa Arlindinho como herdeiro de seu legado artístico.
Mas a herança de nome não é exclusividade de Arlindinho. Almirzinho, filho de Almir Guineto, chegou ao Revelação após a saída de Xande de Pilares. A cantora Mart’nália é filha de Martinho da Vila. Maria Rita, de Elis Regina. Certamente, você se lembrou de outros cantores herdeiros. É como diz João, pai de Diogo Nogueira: “O nome, a obra imortaliza”. Agora, é Arlindinho quem está com a batuta na mão.
HERDEIROS – Assim como no Samba, a política é palco para herdeiros. Em 2014, a Câmara dos Deputados publicou uma matéria com título “Filhos e netos de políticos tradicionais se elegem deputados”. Lanço aqui um desafio. Vou listar os que chegaram ao Congresso naquele ano e você tenta se lembrar o nome dos pais deles. Ok?
Clarissa Garotinho, Eduardo Bolsonaro, Bruno Covas, Pedro Cunha Lima, Daniel Vilela… e tem muito mais. No Distrito Federal, pelo menos três Roriz já ocuparam cargos eletivos. Até hoje a família tem representante na Câmara Legislativa: o deputado distrital Joaquim Roriz Neto (PL).
Em 2018, muitos políticos foram eleitos com o discurso anti-establishment. Ibaneis Rocha (MDB) foi um dos que aproveitaram a onda “pró-renovação”. Jair Bolsonaro também, mesmo que à época já tivesse quase três décadas de mandato e filhos na vida pública. Em 2022, o eleitor brasileiro não quis apostar alto e muitos políticos experientes voltaram ao cenário.
Agora questiono: a renovação será de novo um mote nas eleições? Acredito que em 2026 o brasileiro não deve apostar em aventureiros, principalmente após os complexos problemas internacionais que estamos vivendo.
Como estou falando de políticos tradicionais, farei uma promessa sem jeito: prometo jamais criticar os políticos-herdeiros apenas pelo sobrenome. Afinal, assim como eles, sou um dos herdeiros do espólio dos Pontes na comunicação.