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Artigo

O boteco do Lévi

  • Redação
  • 27/10/2017
  • 17:48

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Mario Pontes (*)

Enjoado de tanta notícia porca, mudei para um canal desconhecido. A manobra me valeu um prêmio. Na tela, as imagens de um já antigo documentário sobre alguém realmente importante na vida intelectual do século XX: Claude Lévi-Strauss. Judeu belga nascido em 1908, ele é bem conhecido e admirado por muitos brasileiros, em particular os que foram seus alunos ou colegas na Universidade de São Paulo; os que o acompanharam em suas visitas a aldeias de indígenas, cujos modos de viver e conceber o mundo inspiraram parte significativa de sua obra científica; e aqueles que, como o autor destas linhas, leram pelo menos o essencial do que ele escreveu.

O homem que aparecia na tela tinha pouco a ver com o daqueles retratinhos três-por-quatro, às vezes impressos nas orelhas dos seus livros. Nas conversas com os entrevistadores ele esteve sempre de pé, mas nem parado nem rígido, como costumam se portar diante das objetivas aqueles que não são gênios mas têm sempre de fingir que são os tais. Vestia-se muito simplesmente, com uma calça escura amassada e uma camisa solta, de quatro bolsos, como aquelas que eu e mais alguns milhões de adolescentes usávamos lá pelas décadas de 40 e 50 do século passado. De vez em quando Lévi riu de si mesmo. E o espectador MP também sorriu, ao lembrar-se das várias vezes em que o nome do antropólogo foi usado para aporrinhá-lo.

Naquele tempo, embora fosse sabidamente agnóstico, fui convidado a trabalhar na Editora Vozes, dos frades franciscanos menores de Petrópolis. Para começar, atribuíram-me a tarefa de  atualizar-modernizar o visual dos livros e periódicos ali editados desde os primeiros anos do século XX, para que correspondessem à abertura de comportamento da Igreja em tempo de Concílio. Depois, informalmente, tornei-me um dos três editores da quase secular Revista Vozes, que ao se abrir a várias correntes de idéias do mundo contemporâneo passou a chamar-se Revista de Cultura Vozes.

A resposta do público laico superou as expectativas. Não só no tocante ao número de leitores, mas também quanto à disposição de intelectuais – em geral procedentes de universidades – de colaborar com aquele renovado veículo de cultura. E nesse ponto entro eu. Embora, como já disse, minha tarefa específica fosse cuidar da boa aparência da revista, seus diretores frequentemente pediam minha opinião sobre o conteúdo dos textos a serem publicados e, em particular, daqueles que não eram solicitados mas oferecidos.

Entre as correntes de pensamento que então dominavam o mercado das idéias, destacava-se o estruturalismo. Certamente por causa da visão aberta de muitos dos seus seguidores, sua concepção das formas sociais, seu tratamento não dogmático das experiências humanas, em tempo de novos, sisudos e às vezes ferozes dogmatismos. Nessa atmosfera intelectual, como seria de esperar, o que não faltava eram referências às idéias estruturalistas nos textos candidatos à publicação na revista. Infelizmente, em algumas dessas ofertas havia mais gatos do que lebres.

Como constatei após a leitura de um trabalho sobre o estruturalismo de Strauss oferecido por três jovens universitários. Era tudo cópia, repetição, uso indevido até daqueles pequenos e simplérrimos gráficos que o autor desenhava para ser mais facilmente entendido. Nervosos, os candidatos esperavam minha opinião sobre seu trabalho.

— Sabem o que levou Strauss a descobrir a importância da idéia de troca e dar-lhe um lugar de destaque em sua obra? – Os três se entreolharam e nada tinham para dizer. – Não sabem? Pois eu lhes digo. Em visita ao sul da França, ele observou que os frequentadores de um boteco de quinta categoria tinham o hábito de, antes de beber o primeiro trago, derramar metade do seu vinho no copo do cliente mais próximo. Como todos faziam o mesmo, a quantidade do vinho em cada copo permanecia a mesma. Por que então o ritual? Porque a troca contribuía para o estabelecimento e a manutenção de relações sociais. E, mais importante ainda, o hábito da troca era um fato intrínseco, inseparável, da própria constituição da vida social. Esqueceram? Pois leiam uma de suas obras básicas, As estruturas elementares do parentesco; que, por coincidência, foi traduzida e editada no Brasil em 1949, pela Editora Vozes, a mesma que edita a revista em cujas páginas vocês gostariam de estar presentes.

(*)Mario Pontes, ex-editor do Caderno Livro, do Jornal do Brasil, ficcionista e tradutor de obras de ficção e ensaio. Mora no Rio.  

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