Tersandro Vilela (*)
A lógica de presença constante nas redes sociais, que marcou os anos 2010 e talvez tenha perdurado até a pandemia de covid-19, vem sendo substituída por um comportamento cada vez mais frequente: o silêncio. Em vez de compartilhar rotinas, pensamentos ou imagens do cotidiano, muitos usuários têm optado por não postar.
O gesto, que pode parecer desinteresse ou cansaço, revela mudanças mais profundas nas dinâmicas de sociabilidade digital. Entre os principais motivos está a saturação dos próprios espaços.
O conteúdo pessoal perdeu relevância nos feeds dominados por publicidade, vídeos virais e postagens hiperproduzidas. Quem antes registrava um almoço ou uma viagem com espontaneidade, agora se depara com a sensação de que só vale a pena publicar se o conteúdo tiver apelo visual e engajamento garantido.
PREÇO EMOCIONAL – Ao mesmo tempo, cresce a percepção de que a exposição constante cobra um preço emocional. A comparação permanente com vidas idealizadas, o medo de julgamentos e a vigilância dos algoritmos levaram muitos a optar pelo recolhimento.
A ideia de “não postar” não significa ausência das redes, mas uma nova forma de usá-las: consumir em silêncio, interagir nos bastidores, preservar o íntimo.
A popularização dos grupos fechados, das conversas privadas e de ambientes digitais mais restritos reflete essa transição. As redes deixaram de ser “diários públicos” e passaram a funcionar como vitrines controladas e, para muitos, vazias de conexão real.
Postar menos, nesse contexto, tornou-se um ato de equilíbrio. Um modo de recuperar controle sobre o tempo, a atenção e a própria narrativa. Não se trata de abandonar as plataformas, mas de redimensionar seu lugar na vida cotidiana. E talvez esse silêncio diga mais sobre o presente do que mil fotos postadas ao acaso.
(*) Jornalista pós-graduado em Filosofia, especialista em Liderança: gestão, resultados e engajamento e mestrando em Inovação, Comunicação e Economia Criativa