Enquanto governos correm para acompanhar a velocidade das inovações tecnológicas, a inteligência artificial (IA) continua avançando sobre o mundo do trabalho. Um levantamento da empresa Pluxee, divulgado recentemente, com dois mil profissionais brasileiros, mostrou que um em cada três teme ser substituído por sistemas automatizados.
O dado ilustra uma preocupação crescente com o impacto da IA sobre ocupações já consolidadas — especialmente em um país marcado por desigualdades no acesso à tecnologia e à qualificação profissional.
Apesar dos receios, a pesquisa revelou que a IA também é vista como uma ferramenta de apoio. Para três em cada quatro entrevistados, a automação pode impulsionar a produtividade e contribuir com a inovação nos ambientes de trabalho.
Os setores de atendimento ao cliente, operações e recursos humanos aparecem entre os mais beneficiados. Mesmo assim, preocupações com a dependência tecnológica e com a falta de preparo das empresas para lidar com os riscos da IA ainda persistem.
CONSTRUIR PONTES – A Organização Internacional do Trabalho (OIT) acompanha de perto essas mudanças. Em 2023, a entidade criou um indicador global para medir a exposição de diferentes profissões à IA generativa.
A análise sugere que, mais do que substituir empregos inteiros, a tecnologia tende a transformar a forma como as tarefas são realizadas, exigindo novas habilidades — especialmente em atividades que envolvem julgamento, criatividade e interação social.
Nesse contexto, Bill Gates chamou atenção para áreas que, segundo ele, continuarão dependendo fortemente do fator humano. Para o cofundador da Microsoft, os campos da biologia, energia e programação reúnem características que a IA ainda não consegue replicar, como pensamento crítico, adaptabilidade e intuição. Mesmo com os avanços recentes, essas dimensões seguem exigindo decisões complexas e sensibilidade contextual.
No Brasil, a chegada da IA ocorre em um cenário que já é desigual. Sem um esforço coordenado de capacitação e políticas públicas, os benefícios dessa revolução tecnológica correm o risco de se concentrar ainda mais nas mãos de poucos. O desafio é garantir que a inteligência artificial não amplie abismos — mas ajude a construir pontes entre eficiência e justiça social.