Ana Clara Mendonça (*) e Tácido Rodrigues
A história de Caio Bonfim, 34, se confunde com a de milhões de crianças que um dia sonharam ser jogador de futebol. Começou aos seis anos numa escolinha perto de casa e, em 2007, chegou a fazer parte da base do Brasiliense. Até que decidiu trocar os gramados pela pista de atletismo, escolha que o fez entrar na galeria de imortais ao conquistar a inédita medalha de prata olímpica da modalidade, em Paris, no ano passado.
Entre viagens e competições mundo afora, Caio garante que uma coisa nunca mudou: o amor por Sobradinho, onde nasceu e vive até hoje. “A minha paixão é esse cantinho aqui de Brasília”, diz, orgulhoso, mencionando o aniversário da cidade que completou 65 anos na terça (13).
Foto: Antônio Sabino/BSB Capital
Por ser uma região serrana, as subidas e descidas exigem, segundo ele, bastante preparo físico. “Gosto de ir ao Parque dos Jequitibás porque dá pra treinar, fazer trilha e aproveitar a paisagem”. No tempo livre, Bonfim gosta de frequentar o Rancho Canabrava, chácara que fica no Núcleo Rural de Sobradinho. “Lá dá pra andar a cavalo, tem comida boa e as crianças (os filhos Miguel e Theo) adoram”.
REVITALIZAÇÃO – O estádio Augustinho Lima também tem um lugar especial no coração do multimedalhista. É lá que ele deu os primeiros passos no esporte, incentivado pelos pais, e foi abraçado pela comunidade ao voltar das Olimpíadas. “Pessoas que eu não conhecia vibraram e torceram por mim. É um momento que está marcado na minha memória com muita emoção. Me senti abraçado”.
A expectativa de Caio é que, até o fim do ano, a revitalização do estádio, prometida pelo governador Ibaneis Rocha, seja concluída. “Me alegro que a marcha atlética despertou o interesse dos responsáveis por cuidar do esporte na nossa cidade. Isso vai ser positivo e vai deixar um legado importante para a modalidade e para Sobradinho”, afirma.
CARINHO – Caio Bonfim foi convocado para o atletismo desde cedo. Filho de um treinador e de uma ex-marchadora, ele é treinado pelos pais. O atleta conta que durante os treinamentos, quando a modalidade esportiva ainda era pouco popular, as pessoas não compreendiam o esporte. Somente com as medalhas nos Jogos Pan-Americanos, Campeonato Mundial e Olimpíadas a marcha atlética passou a receber carinho popular.
Saiba +
O Centro de Atletismo de Sobradinho (CASO), criado para aproximar o atletismo de estudantes de escolas públicas do DF, foi fundado por João Sena Bonfim e Gianetti Sena Bonfim, pais de Caio. Atualmente, o filho ilustre é o responsável pelo projeto social, que conta com cinco núcleos espalhados pelas Regiões Administrativas. Os treinos ocorrem de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h (matutino), e das 14h às 18h (vespertino). Para mais informações, entre em contato pelo número (61) 99213-3284 ou acesse o site www.casoatletismo.com.br.
Uma brincadeira muito séria
Não só de esporte vive Sobradinho. Na cultura, o Boi de Seu Teodoro é tradição há 62 anos e celebra as raízes maranhenses do bumba-meu-boi. O nome é uma homenagem a Teodoro Freire, “candango” que veio para Brasília na década de 1960 trabalhar na construção da nova capital.
Um dos primeiros brincantes da cidade, Freire morreu em 2012, aos 91 anos. Mas seu legado continua. Agora, quem cuida do festejo popular é Tamá Freire, 58 anos, uma de suas filhas. Desde pequena, ela relata que sempre “brincou o boi” e lembra de como era Sobradinho assim que a família chegou. “Não tinha asfalto, rede de água ou de esgoto. Hoje a cidade mudou, mas a sensação de pertencimento é a mesma”, conta a toadeira.
MEMORIAL – Com base em seu valor histórico e artístico, o Boi de Seu Teodoro foi declarado patrimônio cultural imaterial. O ato é reconhecido nacional e internacionalmente, inclusive, pela Unesco. Uma manifestação cultural que atravessa gerações. “O boi é para todas as idades. Eu brinquei grávida, meu filho hoje brinca, assim como meu marido e minha filha”, relata Tamá.
Abrigado no Centro de Tradições Populares de Sobradinho, o Boi de Seu Teodoro ganhou um memorial em 2022. O espaço retrata diferentes sotaques e ritmos da brincadeira, em especial a zabumba e a baixada.
Como forma de manter viva a tradição, o memorial recebe estudantes do jardim de infância ao Ensino Médio. Na visita, os mais novos conhecem a história do festejo, bem como o mito de fundação. “Às vezes a gente vai até a escola, mas muitos alunos nem sabem direito do que se trata. A cultura ainda precisa ser melhor divulgada”, avalia.
(*) Estagiária sob supervisão